Iggy Pop, BaianaSystem, Wilco, Dona Onete, Flaming Lips estão entre os melhores shows de 2016 segundo o el Cabong.

O ano de 2016 comprovou que vivemos novos tempos para a música em Salvador, com shows em quase todos os dias do ano, vários festivais, muitas novidades surgindo e artistas de estilos diversos circulando pela cidade. As ofertas não param, com novas casas aparecendo (mesmo com outras fechando, afinal há mesmo uma crise), projetos se consolidando e muitas ações de ocupação com música na rua. Evidente que ainda há muitos problemas, um deles é a falta de curiosidade do público por artistas menos badalados.

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Impossível contabilizar o número de shows na cidade durante o ano, mas o número é cada ver maior e separamos alguns dos que mais chamaram para o el Cabong. Nem todos foram em Salvador, alguns foram em festivais fora do estado, como o Zons, em Aracaju, e especialmente o Bue, em Buenos Aires.

Por Luciano Matos
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FUNFUN DÚDÚ, LIVIA NERY E TROPICAL SELVAGEM

Teatro Gregório de Mattos – Salvador/ 22 de janeiro

Alguém teve a genial ideia de juntar três dos novos e mais interessantes nomes da música baiana contemporânea num mesmo palco. Não eram três shows em sequência, eram os três juntos, ao mesmo tempo no palco. Os 10 Integrantes do Tropical Selvagem, Lívia Nery e Funfun Dúdú formaram um círculo, tocaram juntos, alternaram e experimentaram as formações e fizeram um daqueles shows memoráveis do ano. Com uma atmosfera criada pela junção de música, cenário e iluminação, eles deixaram o público que os cercava embasbacado com o encontro de experimentações, jazz, pagode, MPB, trip hop e arrocha.

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BOOGARINS

Portela Café – Salvador/ 3 de março

Já tínhamos visto a banda num teatro em Porto Alegre, num parque ao ar livre em Barcelona, num boteco em Montevideo. Este ano, a banda finalmente tocou em Salvador e fez um showzaço dentro do projeto Noites de Radioca, no Portela Café. O resultado em todos eles foi sempre impressionante, com a parede de guitarras, o groove e o vocal doce de Dinho Almeida implantando um clima especial e lisérgico em qualquer lugar, seja qual for. De forma encorpada e sedutora, a banda funciona muito ao vivo, com um encontro único entre a neo-psicodelia e a música brasileira, justificando, também no palco, porque eles são uma das melhores bandas surgidas no rock nacional nos últimos anos.

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LEE RANALDO

Cine-Teatro Solar Boa Vista – Salvador/ 15 de setembro

Um dos mestres da guitarra encharcada de ruídos e microfonias esteve no Brasil para apresentar um aspecto de sua carreira solo desconhecida para muitos. Apenas ele e um violão. Um show acústico. O formato poderia levantar desconfianças de quem esperava o noise do Sonic Youth pelo qual ficou conhecido, mas Ranaldo mostrou que é um monstro na arte de tirar proveito de seu instrumento, seja qual for. No show, o músico acabou levando o formato voz e violão para outro patamar, apresentando suas canções tortas, tocando de forma não convencional, se utilizando de distorções no instrumento e usando em alguns momentos até um arco de violoncelo. Toda focada em músicas de sua carreira solo, a apresentação ganhou ainda mais brilho com uma versão de ‘Ocean’, do Velvet Underground. Foi isso que Salvador e mais quatro cidades viram na turnê Acoustic Solo. Daqueles momentos que quem viu sabe que presenciou um cara simples, gentil e bem humorado mostrar porque é genial e se tornou uma lenda da história do rock.

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CORAÇÃO SELVAGEM – JOSYARA E GIOVANI CIDREIRA

Teatro Gamboa Nova – Salvador / 21 de agosto

Josy e Giovani representam muito bem a nova música baiana com seus trabalhos autorais. O show em homenagem a Belchior fortaleceu essa perspectiva, pois mostrou que, mesmo com composições de um ícone de nossa música, ambos possuem muita personalidade em recriar essas obras, sem apelar para um repertório fácil e óbvio. Um show tocante, repleto de emoção, que transpirou verdade, e mostrou uma grande sintonia entre os dois. Daqueles que dá vontade de ver novamente várias vezes.

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DONA ONETE

Festival Radioca – Trapiche Barnabé – Salvador/ 4 de dezembro

A veterana artista paraense já havia mostrado seu balanço até na Europa, mas só em 2016 conseguiu chegar a Salvador. E foi logo em dose dupla. Primeiro em shows no pequeno espaço da Caixa Cultural e depois no Festival Radioca, onde obteve um resultado mais próximo do tamanho de seu talento, com milhares de pessoas se rendendo ao modo sedutor dessa jovem setentenária. Um passeio pelos ritmos paraenses embalados por sua incrível banda. Mesmo sentada o show inteiro em uma cadeira, dançou, distribuiu charme e beijinhos, emocionou e encerrou o festival abrindo definitivamente o verão. Promoveu um verdadeiro carnaval a base de carimbó, banguê e alegria. Histórico.

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WILCO

Festival Bue – Tecnópolis – Buenos Aires/ 15 de outubro

A América do Sul desejava há anos pelo retorno do Wilco ao continente. Disco atrás de disco, o culto à banda só aumentava e em 2016 o grupo resolveu finalmente dar às caras. Acabou sendo uma turnê por três países, Brasil, Chile e Argentina. Em todos eles, o público pôde conferir um desfile de faixas de vários discos da banda, com algumas em versões diferentes de um para outro. O saldo foi de shows inesquecíveis de uma das bandas mais consistentes e interessantes da atualidade. Músicas do novo trabalho, hits, faixas menos óbvias e horas com o que de melhor é feito de folk rock no planeta.

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THE BAGGIOS

Festival Zons – Reciclaria  – Aracaju/ 17 de janeiro

Seja jogando em casa, ou como visitante, os sergipanos da The Baggios se consolidaram em 2016 como uma das principais bandas de rock do país. O novo disco “Brutown” reverberou muito bem, sendo incluído inclusive em várias listas de melhores do ano, mas é ao vivo que a banda mostra melhor seus atributos. Rock para gente grande, visceral, denso e certeiro, com o duo Julio Andrade e Gabriel Carvalho, fazendo um blues rock de alto nível e com um sotaque infalível. Este ano, eles ganharam a companhia de Rafael Ramos nos teclados, que também atua como baixo, dando novos caminhos para a sonoridade do grupo. Continuou excelente.

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RONEI JORGE

Commons – Salvador/ 22 de outubro

Há tempos Ronei Jorge é um dos nomes mais interessantes da música feita na Bahia, seja com sua banda Saci Tric (que fez um show único e histórico em 2016 depois de um intervalo de 18 anos), seja com a que foi mais longe, a Ladrões de Bicicleta, ou com o projeto Tropical Selvagem. Em 2015, Ronei resolveu assumir de vez a carreira solo, mas foi nesse ano que a consolidou e engatou uma sequência de shows. Fez apresentações sozinho no palco, apenas com um guitarrista e ou com uma senhora banda de acompanhamento. Em todas as situações, são suas composições que se sobressaem, mas também se destaca o cuidado no formato, nos arranjos e na sonoridade de sua música. Com muita personalidade, Ronei reúne estes elementos em shows consistentes, compilando um trabalho de alto nível que já deveria extrapolar as fronteiras baianas.

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CÉU

Praça Tereza Batista – Pelourinho – Salvador/ 23 de julho

Embalada por um dos melhores discos do ano, a cantora Céu mostrou que deu um passo à frente na carreira com o disco “Tropix”. Saiu da zona de conforto e criou uma nova atmosfera para sua música, mais próxima do que seria uma pista de dança retrô-futurista. Ao vivo, a cantora mostra ainda mais o poder das canções do disco, com ela mais solta e segura no palco, dançando, enfeitiçando e sabendo dosar a sedução. Uma banda azeitada, um público na mão e uma artista se tornando cada vez mais grandiosa.

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FLAMING LIPS

Festival Bue – Tecnópolis – Buenos Aires/ 15 de outubro

Utilizar recursos extra-música para tornar seu show mais impactante não é nenhuma novidade. Muita gente abusa de elementos cênicos, iluminação e efeitos, mas o Flaming Lips talvez seja hoje a banda que melhor saiba fazer disso a chave para criar uma viagem louca, psicodélica e única. Mesmo fazendo isso há algum tempo, ainda faz muito sentido e consegue transportar o espectador para um estado alterado de consciência. Mas nada disso teria o menor sentido se a música não fosse no mesmo caminho. Aí está o grande mérito de Wayne Coyne e seus comparsas. Enquanto ele vai regendo uma sequência de loucuras com cores, luzes, leds, confetes, bonecos gigantes (cantou até montado em cima de um Chewbacca), arco íris e bolhas gigantes, a banda cria uma sonoridade peculiar, hipnótica e espirituosa, passando do melancólico ao divertido, do cerebral ao irreverente com a mesma maestria. Tudo com uma beleza irresistível.

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METÁ METÁ

Largo Tereza Batista – Pelourinho – Salvador/ 26 de agosto

Poucas bandas conseguiram captar tão bem o espírito da música brasileira de forma tão densa e forte quanto o Metá Metá. É como se fosse uma banda de rock tocando música de terreiro. No show de seu mais novo disco, “MM3”, isso fica ainda mais evidente. A guitarra de Kiko Dunucci, o sax de Thiago França e a voz de Juçara Marçal se entrelaçam e, junto com a potência da percussão, se transformam numa onda sonora visceral que vai seduzindo e hipnotizando o público. O resultado é um transe para os pés e os ouvidos.

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IFÁ

Canto SKol – Parque Boa Vista – Salvador/ 2 de novembro

Em pouco tempo, a IFÁ amadureceu seu som, ganhou coesão no palco e se tornou um dos grandes nomes da nova música feita na Bahia. A consequência disso foi a conquista de um bom público, que segue a banda onde quer que se apresente. Esse ano, se firmou definitivamente e fez mais uma vez grandes shows em Salvador, na Concha, no Pelourinho, no festival Sangue Novo, no Parque Solar Boa Vista, entre outros. O grande diferencial é que a banda não se contenta apenas em decalcar o afrobeat, a partir dos sons de Fela, insere reggae, ijexá e funk, e mantém a mesma maestria por onde trafega, com muito groove e personalidade. É outra que já devia extrapolar o território baiano.

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IGGY POP

Festival Bue – Tecnópolis – Buenos Aires/ 14 de outubro

Qualquer clichê ou frase pronta que fale de Iggy Pop como um veterano se apresentando como um menino ensandecido, não vai dar conta do que é esse senhor no palco. Com o mesmo figurino que o notabilizou (seminu, apenas com calça preta justa e botas), o velho Iguana parece ter reconquistado o vigor e a selvageria que marcou seus shows por décadas. Reforçado com seu ótimo recente álbum, ‘Post Pop Depression’, ele desfilou novas e hits de várias fases da carreira, sempre com um som cru e direto, sustentado por um power trio certeiro. Em cerca de noventa minutos incendiou o Festival Bue, em Buenos Aires, com pérolas como “I Wanna Be Your Dog”, “Lust for Life”, “The Passenger” e “Candy”. Em determinado momento, dezenas de garotos, estimulados pelo cantor e pelo clima de loucura, tomaram de assalto o palco. Era mais do que o esperado e o show chegou a ser interrompido. Do alto de seus 69 anos, acostumado com aquelas situações, Iggy Pop pareceu ter se animado ainda mais, com bom humor xingou os garotos, os botou para fora do palco e engatou uma sequência destruidora só com petardos do Stooges: “Search and Destroy”, “Down on the Street”, “Loose”, “Raw Power” e “No Fun”. Pra que mais?

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KARINA BUHR

Festival Radioca – Trapiche Barnabé – Salvador/ 3 de dezembro

Karina Buhr já vem fazendo shows marcantes, sempre aliando a criatividade de sua música a uma forte performance e presença de palco. Ela ainda não tinha apresentado o incisivo e pesado “Selvática” em Salvador. No finalzinho do ano, fechando a primeira noite do Festival Radioca, ela mostrou que continua certeira em cena. Trilhando uma trajetória quase exclusiva entre as artistas de sua geração, ela desvia dos caminhos fáceis. Não quer ser diva, fofa, ou mesmo apenas uma boa cantora. Transforma o palco num espaço de expurgação, se entregando totalmente a base de reggae, frevo, rock e punk levados por uma excelente banda. Mesmo ficando sem iluminação em parte da apresentação, não se fez de rogada, segurou o show e o público como poucos conseguiriam. Fez do problema um elemento a mais e fez um espetáculo arrebatador até mesmo para quem já tinha visto vários outros da cantora.

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BAIANASYSTEM

Carnaval, Pelourinho, Concha Acústica ou qualquer show pelo país

Há alguns anos viemos destacando o show do BaianaSystem como um dos melhores do país. Em 2016, finalmente, o grupo caiu no gosto da crítica nacional e do público de fora de Salvador. O que primeiro chamou atenção deles, e foi motivo de matérias, muitas conversas e curiosidade, foi a espetacular apresentação e a comoção do público no pré-Carnaval de Salvador. Uma multidão atrás, na frente e dos lados do trio da banda dançava, pulava e gritava em uníssono todas as músicas puxadas por Russo, Beto Barreto e cia. O fenômeno da banda ganhava o olhar de todos e abriu o caminho para o grupo ser convidado para diversos shows pelo país, sempre criando catarse por onde passou, seja o Sesc em São Paulo, sejam os diversos festivais que tocaram Brasil afora. Qualquer um dos shows que fizeram poderia estar na lista, sempre apresentações catárticas, com a junção de uma música com sonoridade contemporânea e forte discurso. Não à toa, ganharam como melhor show do ano em diversas publicações pelo país, finalmente.

Para quem gosta de música sem preconceitos.

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