Moraes Moreira

Música brasileira perde Moraes Moreira, um de seus grandes nomes

Com muita tristeza informamos que morreu na manhã desta segunda-feira (13), no Rio de Janeiro, o cantor e compositor Moraes Moreira. O artista, um dos grandes nomes da música brasileira em todos os tempos, tinha 72 anos e, segundo nota do médico Antônio Carlos Moraes, faleceu às 6 horas de infarto agudo do miocárdio, em sua residência. De acordo com familiares do artista, ele teria morrido dormindo em sua casa.

Há menos de 15 dias a música da Bahia havia perdido outro de seus mestres, Riachão.

Moraes Moreira tem uma extensa e importante trajetória na música brasileira, desde os Novos Baianos, passando pela carreira solo, a contribuição com Armandinho Dodô & Osmar. Em todas as fases conseguiu unir a maestria poética e musical com o sucesso popular. Sua música trafegava por diversos ritmos brasileiros, como forró, afoxé, frevo, samba, sempre deixando sua própria identidade.

Autor de sucessos em vários desses momentos, se consolidou ainda como um dos maiores compositores da história do Carnaval. Com atuação fundamental na festa, ele foi o primeiro cantor de trio-elétrico. Se tornou ainda uma referência para diversos compositores e cantores. Importante lembrar que Moraes costumava ser autor das melodias e harmonias de suas músicas. Quase sempre tendo parceiros nas letras. Entre eles, destaque para Galvão no Novos Baianos e Fausto Nilo na carreira solo. Outros parceiros importantes, nas letras e músicas foram Pepeu Gomes, Jorge Mautner, Antonio Rizério, Armandinho Macêdo, Abel Silva, entre outros.

Moraes estava em quarentena em sua casa e no último dia 18 de março publicou em sua conta no facebook talvez sua última obra. Ele escreveu a mensagem “Oi Pessoal estou aqui na Gávea entre minha casa e escritório que ficam próximos. Cumprindo minha Quarentena, tocando e escrevendo sem parar. Este Cordel nasceu na madrugada do dia 17, envio para a apreciação de vocês. Boa sorte”. E publicou o poema:

QUARENTENA (Moraes Moreira)

Eu temo o coronavirus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida

Assombra-me a Pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mais atenção
O sentimento é profundo

Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito

De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não violência
Toda noite e todo dia

Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
As vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido

Até aceito a Policia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta

Com tanta coisa inda cismo…
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia

As coisas já foram postas
Mas prevalecem os reles
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres

O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não Tem tempo, nem idade.

O el Cabong estava dando início a um projeto tributo ao artista, com cantores e cantoras contemporâneos reinterpretando algumas de suas principais músicas. Obrigado, mestre. Descanse em paz.

A extensa carreira inclui mais de disco, veja abaixo:

Carreira solo
1975 – Moraes Moreira (Som Livre)
1977 – Cara e Coração (Som Livre)
1978 – Alto Falante (Som Livre)
1979 – Lá vem o Brasil Descendo a Ladeira (Som Livre)
1980 – Bazar Brasileiro (Ariola)
1981 – Moraes Moreira (Ariola)
1982 – Coisa Acesa (Ariola)
1983 – Pintando o Oito (Ariola)
1984 – Mancha de Dendê Não Sai (Ariola)
1985 – Tocando a Vida (CBS)
1986 – Mestiço é Isso (CBS)
1988 – República da Música (CBS)
1988 – Baiano Fala Cantando (CBS)
1990 – Moraes e Pepeu (Warner Music)
1994 – Moraes e Pepeu – Ao vivo no Japão (Warner Music)
1991 – Cidadão (Sony Music)
1993 – Terreiro do Mundo (Polygram)
1993 – Tem um Pé no Pelô (Som Livre)
1994 – O Brasil tem Conserto (Polygram)
1995 – Moraes Moreira Acústico MTV (EMI-Odeon)
1996 – Estados (Virgin)
1997 – 50 Carnavais (Virgin)
1999 – 500 Sambas (Abril Music)
2000 – Bahião com H (Atração Fonográfica)
2003 – Meu Nome é Brasil (Universal)
2005 – De Repente (Rob Digital)
2009 – A História dos Novos Baianos e Outros Versos (Biscoito Fino)
2012 – A Revolta dos Ritmos (Biscoito Fino)
2018 – Ser Tão (Discobertas)

com o Novos Baianos:
1970 – É Ferro na Boneca (RGE)
1972 – Acabou Chorare (Som Livre)
1973 – Novos Baianos F.C. (Continental)
1974 – Novos Baianos (Continental)

Novos Baianos – Programa Ensaio 1973 (Na Integra)

Para quem gosta de música sem preconceitos.

O el Cabong tem foco na produção musical da Bahia e do Brasil e um olhar para o mundo, com matérias, entrevistas, notícias, videoclipes, cobertura de shows e festivais.

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