Lendas do Heavy Metal mundial fazem história em festival no sertão baiano

Lendas como Blaze Bayley, Udo Dirkschneider, Mike Vescera e Tim Ripper Owens soltaram suas vozes no Ruídos do Sertão, maior festival de heavy metal da Bahia.

Por Fábio Agra*

Durante o último fim de semana, a cidade de Poções foi a capital baiana do heavy metal. O evento Ruídos no Sertão, em sua segunda edição, já se tornou um marco ao trazer a turnê internacional do Metal Singers, show que reúne quatro lendas, Blaze Bayley (ex-Iron Maiden), Tim Ripper Owens (ex-Judas Priest), Udo Dirkschneider (ex-Accept) e Mike Vescera (Ex-Ywing Malmsteen), além de mais dez bandas. Destaques também para o aclamado Malefactor (Salvador) e a banda local Suffocation of Soul.

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Malefactor/ Foto: Fábio Agra

Sem dever nada a outras grandes produções, tanto no interior quanto na capital, o Ruídos no Sertão contou com uma grande estrutura para receber as bandas e o público, estimado entre 800 a mil pessoas, de acordo com a organização do evento. Além de iluminação e som impecáveis, havia praça de alimentação e estandes da Feira Aliança Underground para comercialização de produtos relacionados ao Rock.

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O vocalista Bawdy, da banda Keter de Salvador, está há onze anos na estrada e ressalta a ótima impressão deixada para quem tocou. “A estrutura de palco, de iluminação, a gente só pegou assim duas ou três vezes tocando e em eventos de bandas internacionais, ou coisa assim. É muito difícil encontrar esse tipo de estrutura no interior e na capital, também”, afirma.

Cerca de 20 caravanas saíram de várias cidades da Bahia, além de outros estados, como Sergipe, Pernambuco e Alagoas para acompanhar dois dias de puro metal em pleno sertão. Na primeira noite, o público foi do Hard Rock da Batrákia, ao Unholy Metal com a Malefactor, principal atração do sábado. Com 23 anos de estrada, cinco discos lançados e turnês pela Europa, a banda soteropolitana fez o público bater cabeça já na madrugada de domingo. Antes, ainda subiram ao palco as eletrizantes Keter, Blackchest, Berzerkers e Human.

Lendas em solo baiano

No domingo à tarde, sob o sol forte do verão, a Locomotiva, de Itabuna, abriu o segundo dia, como um início da preparação para o grande show do Metal Singers que aconteceria logo mais à noite. Em seguida passaram pelo palco as bandas Natural Hate (Caetité), The Savage (Vitória da Conquista) e a Suffocation of Soul, única banda local e que ficou com a gloriosa tarefa anteceder as lendas do heavy metal.

Próximo das nove da noite, quando todas quatro bandas do dia já tinham se apresentado, faltando apenas Udo, Blaze, Mike e Tim subirem ao palco, o público demonstrava certa ansiedade ao ouvir os primeiros acordes da banda que acompanha a turnê do Metal Singers. Os sons das guitarras, baixo e bateria do quarteto paulista, a banda toda é de brasileiros, era o chamado para que Mike Vescera subisse ao palco.

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O ex-vocal do Yngwie Malmsteen e Dr. Sin levou o público ao delírio ao cantar clássicos de sua carreira, tais como Vengeance e Never Die. Em resposta, cerca de mil vozes com as mãos levantadas gritavam Vescera em uníssono. Era a primeira parte do sonho de muitos metaleiros que se concretizava. Em pouco mais de 30 minutos, Vescera cedeu lugar a Blaze Bayley.

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Muito carismático no palco e dizendo o nome da cidade de Poções inúmeras vezes, ao interagir com o público, Bayley deu continuidade ao espetáculo. No repertório, clássicos do Iron Maiden. Era um pedaço da história do heavy metal mundial presente no sertão baiano. Bayley encerrou a primeira parte da apresentação com Fear of the Dark, levando o público a cantar junto com o inglês.

Ex-Judas Priest 

Em seguida, Tim Ripper Owens, assumiu o vocal. Com muita intensidade, o mais novo do quarteto do Metal Singers trouxe todo o peso de sua passagem pelo Judas Priest para o palco. Foram cinco canções, entre elas Death Now e Painkiller. Em seguida, o norte-americano cedeu espaço para uma das maiores vozes e lendas do metal, o alemão Udo Dirkschneider.

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Com mais de quarenta anos de carreira, o fundador da Accpet, banda que influenciou gerações de metaleiros, subiu ao palco para uma apresentação estonteante. O público cantou junto os clássicos Metal Heart e Princess of the Dawn. Todos estavam diante de uma lenda viva.

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Udo Dirkschneider/ Fotos: Fabio Agra

Ao final, os quatro subiram juntos ao palco. Blaze Bayley dedicou Long Live Rock’n Roll a Ronnie James Dio, um dos cantores e compositores mais influentes do heavy metal. Em clima bem descontraído, Bayley levou um tablet para o palco, onde tirava fotos e filmava o encerramento da apresentação. Enquanto os quatro cantavam, o tablet passava de mãos em mãos entre eles. O sonho de ter as lendas do metal em Poções se materializava e está agora também arquivado até mesmo pelo quarteto. Com duas horas e meia de show, o Metal Singers encerrou a grande apresentação, única para a Bahia e para o Nordeste.

Para Blaze, ter estado em um lugar que recebeu pela primeira vez uma atração internacional dessa magnitude “é absolutamente maravilhoso”, afirmou em entrevista após o show. Ele completou dizendo que “é legal porque nós adoramos cantar. Isto não é sobre a indústria musical, é apenas pelos fans, pela música”. Vescera também ressaltou que além do show, o público estava ótimo.

A turnê do Metal Singers, projeto encabeçado pelo produtor artístico Silvio Rocha, pretende reunir ícones do rock para cantarem juntos a cada ano. Esta é a primeira vez que estas quatro lendas dividem o mesmo palco, dando início a este projeto. Para Tim Ripper esta é a melhor parte do trabalho, estar junto com Baylye, Vescera e Udo. O ex-Accpet diz que “também é um prazer estar junto com eles, é divertido e as pessoas curtiram. Acho que isso é importante”.

Metal Singers e Público/Foto: Open The Road Agency Lendas Heavy Metal
Metal Singers e Público/Foto: Open The Road Agency

Ruídos no Sertão

O festival Ruídos no Sertão teve sua primeira edição em 2014, realizado em apenas um dia e com quatro bandas. O enorme salto positivo em apenas um ano ainda deixa incrédula algumas pessoas, como o vocalista da Batrákia, Bruno Passy, que esteve presente também no ano passado. “A gente fica surpreso, mas acima de tudo muito feliz de ver que o festival tomou essa dimensão, essa proporção gigantesca até a nível internacional, que não tem a nada a perder para lugar nenhum”.

Para o produtor cultural e organizador do Ruídos, Gildásio Júnior, fazer um evento com alguma banda internacional do porte do Metal Singers revela o amadurecimento e profissionalismo que a cena alternativa do interior da Bahia vem tendo nos últimos anos. “Eu acho que é um marco, na verdade. Porque a cena vem crescendo ao longo dos anos, tanto em termo de quantidade de eventos em cidades que antes a gente nunca via acontecer shows desse tipo, quanto em relação à organização mesmo. Os eventos estão cada vez mais organizados. A gente tem visto eventos maiores, com uma maior estrutura, uma organização boa, a qualidade de som legal. E esse evento marca mesmo, coloca de vez o cenário baiano entre os expoentes do heavy metal nacional”, exalta.

Sobre a turnê do Metal Singers ter passado e ecoado as vozes de quatro grandes nomes da história do Rock mundial no sertão da Bahia, o que parecia um delírio no início, quando se cogitou a trazê-los, aos pouco foi se tornando real e um marco para o maior evento, até o momento, de heavy metal do estado. “Se eu não fosse louco, eu também não acreditaria. Desde que eu comecei a trabalhar com produção, a gente sempre almejou começar a trazer esse tipo de atração para a região, para Poções principalmente porque é uma cidade que a gente sempre produziu eventos aqui. Apesar de ser hoje a concretização de um sonho, esse sonho sempre foi palpável. Sempre soube que um dia a gente poderia chegar lá.”, conclui Gildásio Júnior.

O Metal Singers segue em turnê no Brasil e América do Sul até o dia 25 de janeiro. Blaze Bayley, Udo, Tim Ripper e Mike Vescera se apresentam em Coachabamba, na Bolívia, no dia 22, em Uberlândia-MG, no dia 23, São Paulo dia 24 e em Bogotá, Colômbia, no dia 25.

*Fábio Agra é poçoense e Jornalista formado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). O texto foi publicado originalmente na revista Gambiarra.

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