Conseqüências da monocultura da Axé Music

A monocultura da Axé Music na Bahia segue deixando o estado à margem do que acontece no mundo e no Brasil.

Os fãs do grupo pop televisivo mexicano RBD estão se lamentando até agora pelo cancelamento do show em Salvador. O motivo alegado pela produção foi a “falta de logística”. O show do grupo, que na verdade não tem grande relevância, revela a realidade trágica da cultura baiana. Sustentada a base do axé e seus congêneres durante anos, a capital baiana [e por reflexo todo o estado] está longe de ser a cidade da diversidade que é vendida e incapaz de receber atrações internacionais de peso.

Menos pela sua produção, que, com muita insistência, produz rock, mpb, eletrônica e outros ritmos com qualidade. Mídia, governo, grandes artistas, empresários estão aliados há anos só enxergando uma tal “baianidade”. O frescor inicial do axé, substituído pelos ritmos pré-fabricados e por uma música falsamente popular, se tornou uma monocultura. Durante anos, não se abriu espaço para nada que não fosse música para carnaval. Um dos argumentos de sempre é que era isso que o povo gosta.

Acontece que o povo é mais diverso do que se pensa e nem todos seguem o mesmo rumo. Além do que, ao menos o governo estadual, tem a obrigação de investir na cultura em geral. Não pode direcionar apoio exclusivamente para um universo que já ganha muito dinheiro. A justificativa aqui é que essa música é atrativo para o turismo. Pode até ser, mas não é o único ritmo que atrai turistas e a Bahia não faz só isso. Temos outros atrativos. Por isso, todo ano eleitoral, tantos artistas do axé declaram apoio ao grupo que comanda o Estado há anos (leia mais aqui). O troca-troca pode ser visto em apoios estampados nos trio elétricos, enquanto pouco se investe em outros ritmos, gêneros e estilos. Agora que o axé está moribundo, boa parte de seus artistas tenta se salvar em carreiras apelidadas de pop. Foi isso que deixou e deixa a Bahia totalmente fora do circuito de shows internacionais.

Nada de gringos

Nos últimos anos, a Bahia sempre posou de auto-suficiente culturalmente. Já teria sua própria e rica cultura, não precisava de nada externo. Só recebeu bem artistas internacionais quando eles vieram “celebrar os típicos ritmos baianos”, vide Paul Simon, Michael Jackson e, mais recentemente, o U2, que, a propósito não vieram se apresentar por aqui.

Grande nomes da música mundial deixaram de passar por aqui por falta de apoio. Vide o Ramones, certo de tocar aqui por duas vezes no início dos anos 90 e que, pela desistência de um patrocinador, ficou na lenda. Há ainda a cegueira da apresentação do grupo Placebo e do DJ inglês Fat Boy Slim por aqui. Slim, um dos maiores DJs do mundo, passou despercebido por grande parte da mídia. A turnê do grupo RBD por 12 capitais brasileiras, incluindo algumas menores do que Salvador, como Belém, Vitória, Fortaleza e Goiânia, só comprova como os responsáveis pela cultura baiana estão equivocados. Mesmo o grupo não tendo nenhuma importância, é vergonhoso e pega muito mal para o estado a não realização do show por aqui.

Quem produz shows internacionais lá no Brasil deve olhar atravessado para Salvador, uma cidade incapaz de realizar um show do porte comercial e popular como de um RBD da vida. Isso sem falar em nomes como Black Eyed Peas, banda estourada no mundo inteiro, toca no Brasil em novembro e nem se cogitou Salvador. Além do Tim Festival, que mais uma vez deixa a capital baiana fora de sua programação. A hegemonia da monocultura da Axé Music continua deixando seu estrago.

  1. Oi Luciano:

    apesar da pertinência de sua análise, eu acho q o problema, no caso específico do RBD, foi q o show deles estava marcado para a Fonte Nova no mesmo dia (30/9) q um jogo do Bahia. tentou-se mudar a data para o dia anterior, trocando com BH, mas não deu muito certo e os produtores desistiram.
    no site http://www.ecbahia.com.br vc talvez possa saber mais a respeito.

    abs,

  2. Mas a falta de logística significa que não há um local para se fazer shows. Porém, se dava para ser na Fonte Nova poderia ser também, porexemplo, no Estádio de Pituaçu. É só uma demonstração da incapacidade dos produtores locais.

  3. pois é, não culpem o glorioso baêa. existem tantos outros lugares pra fazer o show, como o pq de exposições. luciano foi perfeito na colocação da monocultura, e do governo do estado. sei q muitos nao gostam de ouvir isso, mas, salvador é um lixo.

  4. Salvador é linda! Ribeira e Bonfim, Solar do Unhão, Graça, Garcia, andar pela Vitória, a vista do cristo, o porto da barra, enfim… Quando digo que Salvador é que não gosta da gente, é exatamente concordando com o seu texto. Mas dizer que Salvador é um lixo, eu não tolero. Quem conhece Salvador sabe o que estou dizendo. O fato de termos uma indústria cultural que desvaloriza a cultura local não torna a cidade um lixo. O problema, que está enraizado, é outro. Salvador, por tudo o que você disse em seu texto, não respeita sua população. A axé é tão culpada quanto o rock é submisso. Não existe diferença aqui entre axé e rock, ambos são conservadores e coniventes. Você disse que deve-se reclamar e mostrar alternativas, é exatamente o que o rock não faz, ou se faz, faz pouco. Me diga qual a diferença entre Los Canos e Rapazola? Culpar a cidade e sua cultura é um erro.

  5. Quanto a Pituaçu… sei não. Por que nínguem achou ruim o Tortoise nào ter tocado em Salvador? Porque por mais que queiram que Salvador passe a ter grandes shows, a cultura é dos grandes shows famosos. Existem milhares de bandas internacionais que com certeza não deve ser caro trazer pra ca. Lembro do Mudhoney quando veio na primeira vez… passou batido por aqui. Mas ses ó querem as bandas que a MTV divulga, prefiro que continue a merda que já esta.

  6. Pelo o amor de Deus… dizer que Ribeira e Bonfim são lugares bonitos?!?!? Quem disser isso, nunca saiu de Salvador. A verdade é que as belezas de Salvador poderiam ser muito mais valorizadas. O Prefeito se preocupa somente de deixar o Farol da Barra iluminado e pintado e esquece de outros lugares. Salvador sequer tem uma orla com calçada onde o turista e a própria população possa caminhar a noite com seguranaça. Quem achar ao contrário, vá conhecer Maceió, Recife, João Pessoa e Natal… Salvador precisa evoluir muuuuuuuito para chegar a ser um lugar bom para se viver…

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