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Mercado de música da Bahia e do Brasil sofrem fortes impactos com isolamentos

Resultados da pesquisa do DATA SIM sobre os impactos da Covid-19 mostram que os impactos no mercado de música do Brasil serão gigantescos. A análise com 536 empresas indica que o prejuízo direto ultrapassa os 480 milhões de reais. Um outro levantamento com um grupo de 30 empresas da música independente na Bahia segue a mesma toada. Segundo a sondagem, pelo menos 150 eventos previstos entre março e maio de 2020 foram cancelados, gerando prejuízo direto de mais de R$ 1,6 milhão de reais.

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Pela pesquisa, realizada através de questionário online entre 17 e 23 de março com empresas de todo país, um total de 8.141 eventos foram afetados, envolvendo um público de mais de 8 milhões de pessoas e um prejuízo estimado em pelo menos 480 milhões de reais. Isso levando em conta apenas as 536 respostas válidas, entre empresas e micro empreendedores individuais com CNPJ.  Os dados completos estão disponíveis em relatório para download gratuito.

O mercado da música contemporânea independente na Bahia não realizou uma pesquisa ampla semelhante, mas também está sentindo o impacto. Um levantamento realizada por 30 empresas do setor mostra que 150 eventos previstos entre março e maio de 2020 foram cancelados. O prejuízo direto gerado pelos cancelamentos é de mais de R$ 1,6 milhão de reais. Responsáveis pela realização de festivais, shows, agenciamentos artísticos de diversos artistas baianos de reconhecimento e visibilidade nacional e internacional, essas empresas apontam para os graves impactos futuros na economia da música.

Para a produtora Renata Hasselman, sócia na empresa Multi – Planejamento Cultural a pandemia que estamos vivendo tem e terá efeitos devastadores, para o setor cultural. “É bem preocupante pois além de estarmos parados, sabemos que seremos últimos a retomar a operação, pois o retorno será gradual”. Ela lembra que o setor tem uma cadeia produtiva extensa de autônomos e pequenas empresas que estão sem qualquer perspectiva, sendo devastadas. “Hoje podemos calcular e estimar os impactos, mas eu acredito que serão subestimados, assim como os números de pessoas infectadas pelo covid-19 no Brasil. Chegou a hora de repensarmos o estado minimo e o modelo econômico que estamos vivendo. A cultura e arte é fundamental para a nossa existência e esta correndo sério risco.”

Como uma mostra da vitalidade e força desse setor, o grupo fez um apanhado do que realizou em 2019. No total foram 433 eventos para mais de 266 mil pessoas, movimentando uma receita de mais de R$ 7 milhões e empregando centenas de profissionais. Estes dados, bastante representativos, retratam apenas uma parcela do setor musical baiano. 

O coletivo de produtores baianos, assinando como Produtores.BA, apresentou para o Governo do Estado da Bahia e Prefeitura de Salvador um conjunto de propostas “para mitigar os efeitos imediatos desta crise no setor musical e que possam a médio e longo prazo contribuir para que a produção”. Além das cartas encaminhas às autoridades, o grupo soltou nas redes sociais as propostas almejadas com as hashtags #fomenteaculturaruicosta e #isenteaculturaacmneto.

Trinta empresas, inclusive do interior, assinaram a carta de propostas endereçadas para o governados Rui Costa, além dos responsáveis pela Secretaria de Cultura, Fundação Cultural do Estado e Bahiatursa, que inclui 19 itens. Entre eles estão o lançamento de editais para apresentações on-line, abertura dos editais de Fundo Setoriais, quitação de pagamentos atrasados, disponibilização de linha de crédito, pautas gratuitas em centros de cultura e equipamentos culturais como o TCA e a formação de um comitê de crise para discutir medidas emergenciais. Até o momento o Governo do Estado e a Secretaria de Cultura responderam que receberam as solicitações que “oportunamente, serão remetidas informações quanto aos desdobramentos da demanda em questão”.

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Cards com algumas das propostas enviadas para o Governo do Estado da Bahia e para a Prefeitura de Salvador.

O documento enviado ao prefeito ACM Neto, endereçada também à Saltur e Fundação Gregório de Mattos, foi assinada por 18 empresas e apresentava 9 propostas. Entre elas estão a implantação de uma renda básica emergencial para profissionais vinculados a área da música e outros seguimentos da cultura, cessão de pauta gratuita nos equipamentos culturais da Prefeitura e disponibilização de linha de crédito. Além de isenção de impostos, como TVL e TFF para produtoras e casas de show de pequeno e médio porte, e liberação de taxas de licenciamento de órgãos como SEMOP, LIMPURB, TRANSALVADOR, SUCOM e SEDUR para festivais Festivais de pequeno e médio porte.

A Fundação Gregório de Mattos respondeu que abriu uma linha de comunicação com outras secretarias do município para analisar a viabilidade de três frentes de ação: construção de ação de fomento emergencial; negociações de taxas e impostos para espaços culturais; e inserção de artistas e profissionais do mercado cultural nas linhas de crédito públicas preexistentes. Garantiu também a isenção de pauta de seus espaços culturais até o final do ano. Indicou ainda que deve retomar os editais suspensos, mas em um momento futuro. Propôs ainda uma conferência online para que sejam feitas reuniões de forma mais efetiva.

Pesquisa nacional

A pesquisa do DATA SIM reforça a preocupação dos produtores baianos. Além do montante do prejuízo de 480 milhões de reais, o instituto mostrou que os principais impactos relatados com a paralisação do setor devido ao coronavírus foram adiamentos (81,2%) e cancelamentos (77,4%). Além da diminuição do ritmo de trabalho (66,8%), interrupção das atividades (63,2%), dificuldades com remarcações (51,5%), dificuldades com patrocínio (30,2%), contaminação (7,1%) e falta de insumos (5,6%).

O número total de profissionais envolvidos na operação dessas empresas foi outro foco. Só nessas empresas foram 19.996 profissionais deixando de trabalhar, sendo que 30,3% são fornecedores, 22,6% frelancers, 18,1% prestradores terceirizados e 15,3% colaboradores PJ. Funcionário CLT representam apenas 4,8%. Mais da metade 53,2% dessas empresas são MEI – Micro Empreendedor Individual.

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Casas de show como o Commons Studio Bar estão entre os espaços que sofrem com o isolamento.

A maioria das empresas pesquisadas são das áreas Artístico (Booker, agente, produtor, empresário, curador), com 71,8%, e Organização (Promoção, produção, realização, direção, assessoria, gestão), com 56,9%. Lembrando que uma mesma empresa pode atuar em mais de uma área.

Os realizadores da pesquisa fizeram também uma projeção com os 285 representados como MEIs que responderam o questionário. Projetados para as cerca de 62 mil MEIs registradas como empresas de Produção, Sonorização e Iluminação no Ministério da Fazenda, o prejuízo estimado das “MEIs da Música ao Vivo” no país seria de 3 bilhões de reais impactando cerca de 1 milhão de profissionais.

“Esses números ajudam a pensar em ações concretas para o setor, composto por muitos interesses, a maioria sem uma representação ou associação de classe. É hora de pensarmos coletivamente para identificarmos interesses comuns e nos organizarmos, de maneira orgânica. Não há espaço para pensarmos que uma única iniciativa vai liderar esse processo de cima pra baixo. É hora de aproveitarmos as iniciativas que surgiram autonomamente em diversas partes do país para repensar toda a organização política do setor”, sugere Dani Ribas, diretora de pesquisas do DATA SIM.

Empresas de 21 estados responderam o questionário, sendo que a grande maioria de São Paulo (45,5%), seguido de Rio de Janeiro (11,7%), Minas Gerais (9,7%), Rio Grande do Sul (5,4%), Distrito Federal (5,2%), Paraná (4,3%), Santa Catarina (4,3%) e Bahia (2,6%). Os estados do Acre, Alagoas, Goiás, Rondônia, Roraima e Tocantins não tiveram respostas validadas.

O estudo também apresenta um diagnóstico dos principais desafios que a indústria da música precisa enfrentar para lidar com a crise que abala toda a cadeia produtiva do setor, mas também abre possibilidades para que as estruturas e relações do mercado sejam repensadas coletivamente em novos caminhos. “Vai ser preciso recomeçar, reinventar a música ao vivo”, afirma Pena Schmidt consultor especial do projeto. As lives que se espalham pelas redes sociais podem se apanas o começo disso.

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