Entrevista: Ofá e seu progressivo de terreiro

Idealizado como banda em 2015, Ofá é atualmente um power trio com uma formação diferente. Sem guitarras, sem baixo e com uma sonoridade particular. Com sax, violão, synth e bateria produzem um encontro da música poético-afro-baiana com rock progressivo e freejazz. Em seu recém lançado disco de estreia, Leito d’água, o trio, formado por Luan Tavares (violão e voz), Paulo Pitta (saxofone e sintetizador) e João Paulo Rangel (bateria) consolida a proposta de criar paisagens sonoras com uso de timbres, melodias, arranjos e texturas e temáticas sobre o universo dos orixás. Algo como um progressivo de terreiro. 

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Com oito faixas, o disco tem produção musical de Edbrass Brasil, foi gravado no Estúdio Casa das Máquinas, em Salvador e teve apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal. Nessa entrevista, feita originalmente numa live pelo Instagram, o trio fala sobre o conceito do disco e das músicas, os pilares que embasam a criação e produção, religião, mercado e futuro.

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el Cabong – Já se vão seis anos, em 2015, que vocês lançaram o primeiro trabalho, o EP ‘Além e Mais’, o que mudou no grupo de lá pra cá tanto na sonoridade quanto na concepção artística? O que vocês percebem de mudança?

Paulo Pitta – A gente começou em 2015, a partir de uma banda que eu, Luan e alguns outros integrantes tocávamos e essa banda acabou e a gente viu que tinha alguns interesses em comum, algumas músicas que poderiam ser aproveitadas em outro projeto. A gente resolveu começar a ensaiar, fortalecer e fazer esse trampo novo. Só que era um formato maior, era mais baixo, bateria, guitarra, percussão. Luan cantando e tocando e eu tocando sax. Só que, com o passar do tempo… A gente era muito novo. Hoje eu tenho 24 anos. Então, 6 anos atrás eu era bem novo. Então, a gente pensou… vamos ensaiar. Era uma coisa muito experimental de muito experimento mesmo, de primeira banda. Fomos estudar. Começou assim. A gente percebia que dentro dessas músicas, letras e interesses a música de matriz africana era algo que amarrava os interesses que estavam ao redor. Tinha esse interesse em comum da música de matriz africana já ser um objeto de estudo e com isso a gente ia desenvolver coisas a partir desse primeiro ponto, dessa primeira matriz, nesse primeiro pilar. A gente conseguiu se inscrever no projeto da Incubadora Sonora, que é da galera lá do estúdio Caverna do Som de Irmão Carlos e lá no Marback e com o apoio deles a gente conseguiu lançar nosso primeiro EP, que é o “Além mais”, que tem 4 faixas.

el Cabong – Ainda era nesse formato maior?

Luan Tavares – Sim! Ainda, era nesse formato maior.

Paulo Pitta – Como eu falei, a gente era muito novo e gravou o EP. Tocar em Salvador, para bandas novas, não é uma coisa muito fácil. A gente ia ensaiando, mas o tempo vai passando, vai amadurecendo, outros interesses surgem, a mente da gente vai para outros lugares. Acabou que chegou num ponto que a gente achava que nem todo mundo estava afim de seguir aquele mesmo caminho e acabou a gente desfazendo a banda naquele formato. João (Paulo- baterista) chegou a tocar nesse formato maior. E depois, quando uma outra parte da banda saiu, ficou só nós 3. Acho que no final de 2018, que a gente, realmente, invocou que dava pra fazer em trio  mesmo. Eu comprei um synth muito motivado por tocar no Ofá. Esse sintetizador era, inicialmente, para suprir uma necessidade do baixo. Quando não têm baixo tocado, contrabaixo, tem synth bass, então, supria uma necessidade de uma determinada frequência e de uma determinada característica, que tem muito no power trio. Desde 2018, a gente vem amadurecendo e entendendo como é tocar nesse formato, de só ter 3 pessoas. É um diferencial muito grande. A gente teve que estudar bastante pra ver como é que a gente ia, primeiro, readaptar as coisas que a gente já fazia antes e o que é que viria de novo. Como é que surgiria essas novas composições, esses arranjos novos, onde falta isso, onde falta aquilo e poder amadurecer essa estética de tocar em trio.

el Cabong – É um trio, mas não é um power trio clássico com baixo, guitarra e bateria. Explica aí como é essa formação.

Luan Tavares – A gente costuma dizer que é um power trio não convencional, porque eu toco com violão, 7 cordas e canto, Paulo toca sax tenor e sintetizador, como ele falou, e João toca bateria. Essa viagem é mais experimental, porque a gente tenta buscar uma forma diferente de usar o instrumento e tirar ele do lugar comum. Por exemplo, o violão 7 cordas é muito comum na zona de samba, de choro e eu pego, uso alguns timbres e já modifico essas frequências para poder, em algum momento, cumprir as frequências mais graves ou nos oitavadores. Paulo, da mesma forma com o sax, se utiliza muito do pedal e de outros efeitos também. Só João ainda que não se rendeu. A gente não conseguiu convencer ele ainda, mas vai rolar.

el Cabong – Vocês falaram que em 2018 se acertaram como trio. Neste tempo, vocês passaram um período preparando Leito D’Água, como foi esse processo?

João Paulo – Essa questão dessa formação foi um tanto desafiadora. Algumas músicas a gente já tinha mapeadas de fato, já tinha costume de tocar. Para mim, era mais novidade ainda por ter sido o último a entrar na banda. Eu estava na banda há um ano e meio mais ou menos e resolvemos mudar a formação. De lá pra cá foi como eles falaram, foi um ano de estudo, maturando as músicas. Isso, inclusive, muito mais vindo da parte de Paulo e Luan por estudarem música. Eu não estudo música propriamente dito, não faço faculdade de música como eles. Devido a outros afazeres, trampo, outras bandas, outros projetos, acabei ficando um pouco à parte dessa questão da mudança em si. Porém eu participei de todo o projeto depois da criação das músicas, que foi de fato um laboratório de entrar na sala, se trancar lá no estúdio e ir desenvolvendo as músicas. Cada vez chegando com algo diferente. “Está bom”, “não está bom”, “ volta”, “refaz” e estudando outras formas de adaptar aquilo. Pra mim foi de fato desafiador, até porque como baterista é interessante, porque o groove está ali na cozinha, o baixo, bateria. Então, no começo, eu senti um pouco de falta do grave, daquele grave do baixo mesmo, para acompanhar junto com a bateria, mas que aos poucos foi sendo suprido com o synth. Mas foi bem interessante e desafiador.

 

“A gente estabeleceu quatro pilares, estéticos e conceituais para tentar misturar: A poesia, o freejazz ou a improvisação livre, o rock progressivo e a música de matriz africana.”

el Cabong – E quando vocês começaram a produzir o disco em si? Vocês falaram que algumas músicas já existiam e outras não. Vocês criaram muito em estúdio? Porque dá para ver no disco que tem uma diferença entre as músicas, algumas músicas maiores, mais elaboradas, que vão por um caminho diferente. Quando vocês começaram, vocês criaram muito no estúdio? Já tinha muita coisa pronta? Como foi isso?

Luan Tavares – Num primeiro momento, a gente compôs, acho que as músicas mais curtas, provavelmente. A gente compôs um esquema, de sentar eu e Paulinho, esboçar a estrutura da música e depois disso levar para o estúdio para conseguir os arranjos. Isso aconteceu com “Boca que gira”, com “Oxossi”, com “Inaê”, uma parte também. Em 2019 a gente passou no edital da Proext, um edital interno da UFBA, que é um edital de pesquisa e experimentação artística. E, a partir daí, que a gente de fato amadureceu mais a questão da sonoridade, onde imergiu um pouco mais no estudo dos orixás, nesse universo que é místico, poético, filosófico, musical e, a partir disso, a gente compôs “Entre a Forja e a Navalha”, “Conselhos da Brisa” e “Consagrada Abolição”, que é uma música para Ogum, uma pra Oxalá e outra pra Oiá. Nesse momento, é que a gente abre a possibilidade de começar a compor em grupo. A gente pegava algum material sonoro, levava pro ensaio, pro estúdio e chegava lá e tentava tocar de várias formas diferentes, repetindo. O violão fazendo uma levada x, a bateria fazendo outra coisa e partimos muito nesse viés da experimentação mesmo. Em 2019, praticamente foi esse processo de experimentar e pesquisar. Em 2020, a gente já estava para gravar o que seria o nosso segundo EP, que seria o produto desse projeto, só que aí a gente preferiu adiar e com a vinda da (Lei) Aldir Blanc, que a gente foi contemplado, foi que a gente conseguiu gravar o álbum e aí amalgamar todo esse processo, que vinha lá desde 2018 até agora.

el Cabong – Como que Edbrass Brasil (produtor do disco) entrou nisso? Ele é um cara com uma personalidade musical muito forte. O que vocês destacariam da presença dele como colaborador para a sonoridade, para o caminho que vocês tomaram no disco? Além de ser uma figuraça.

Todos – (Risos)

Paulo Pitta – Acho que Edbrass abraçou a ideia da gente. Desde quando era EP, que a gente procurou ele pra fazer, ele já se interessou, demonstrou um interesse grande sobre o que é que a gente estava tentando misturar. Sobre o que a gente chamou no projeto e estabeleceu de quatro pilares, estéticos e conceituais que a gente tentaria misturar: A poesia, o freejazz ou a improvisação livre, o rock progressivo e a música de matriz africana. O projeto que foi aprovado parte de amalgamar, misturar esses quatro pilares, estudar eles em conjunto e ver o que é que a gente consegue compor em cima desse estudo. Como o edital da UFBA, da pró-reitoria de extensão, era um edital de experimentação artística, ele nunca teve uma obrigação de gerar um produto com uma qualidade x, impecável e tal. Era, realmente, um edital de experimentação. É um edital que ajuda muita gente da área de artes na Universidade Federal, porque ele tem um valor x, que é um valor ok para um edital de experimentação de 6 meses. Então, Edbrass  abraçou essa ideia que a gente teve e, só o fato de um produtor abraçar a ideia já nos deu um gás muito grande, principalmente pra gente que é novo. Foi o primeiro álbum que gravei, um álbum de verdade, então, a gente sentiu a ideia abraçada, já era um sinal positivo. Uma marca muito grande dele foi essa, acreditar na gente e estar ali como uma pessoa que está fazendo com que a gente bote para fora, de fato, essa pulsação que estava vindo. Ele é aquele produtor que vai falar certo, na hora certa, quando precisar. Quando não precisar falar nada, é porque ele está vendo que a parada está fluindo dentro da proposta que a gente amarrou, vai deixar fluir e tocar o barco. E alinhavar tudo para que a gente tenha êxito, porque tem gente que às vezes quer falar demais e às vezes só trava a gente. Em uma das músicas a gente travou um pouco no estúdio, porque foi a música mais difícil de gravar. Ele nessa serenidade, esse não falar de só deixar as coisas irem encaminhando e está ali contornando as ansiedades e conversando muito mais sobre outras coisas do que sobre propriamente a música que está sendo gravada. Eu acho que é um fator muito importante dentro dessa característica que você perguntou.

el Cabong – Você falou que a cultura e a religião afro-brasileira tem importância fundamental no trabalho. Queria que vocês falassem dessas referências, como elas foram absorvidas, se vocês fazem parte ou é mais um objeto de estudo? Qual é a relação de vocês e como é que isso apareceu no trabalho?

Luan Tavares – Eu particularmente cresci indo para um centro de umbanda lá na Ilha de Coroa (N.E.: Vera Cruz, Ilha de Itaparica) e desde sempre sou rodeado dessas referências pra tudo na vida. Desde a música até outras questões pessoais também. E, essas pessoas que frequentam lá o espaço pra mim são muito simbólicas, principalmente nesse sentido artístico, mais especificamente com relação e a forma de cantar. Tem uma senhora, mesmo, lá em Coroa, Dona Bica, que acho que é uma das pessoas que eu já vi cantar com mais intensidade. Tem um agudo fenomenal. É uma pessoa que canta com muita intensidade e, enquanto ela se coloca, cada palavra que sai da boca é muito bonito de ver. É uma figura que trago como uma referência muito forte pra tudo. Quando eu vou compor, principalmente pra Ofá, que é um som que precisa ser visceral, precisa ter um quê de honestidade, de entrega, acho que a principal referência pra mim, nesse sentido é Dona Bica, por conta dessa forma dela cantar. Não sou iniciado, mas participo desde sempre.

João Paulo – Eu sou agnóstico, mas respeito muito. Sou rodeado de pessoas do axé e tal. Já participei de vários projetos com música ou com trabalho também que envolvem pessoas de axé e respeito de fato. Principalmente, por ser uma religião muito perseguida. É uma religião que foi obrigada a viver na clandestinidade, devido a “N” fatores políticos, sociais e pra mim é um processo interessante, porque é um processo também de descoberta, é um processo de estudo. Tenho familiares que são do axé e ver essa convivência, sentir essa convivência, até dos outros familiares que não são do axé e que tentam, de certa forma, fazer a boa política. Isso é um tanto engraçado, às vezes, porque quando é próximo de si, quando é próximo da sua família, as pessoas tratam com um pouco mais de tolerância, mas quando se trata da religião do outro, quando é da rua, as coisas passam a ser vistas com olhares diferentes. Acho que o papel importante da música nesse segmento é, justamente, esse de tentar explicar um pouco mais ou tornar as coisas um pouco mais fluidas para a população em geral. Ouvir falar de Exu, que Exu não é demônio, que Exu não é filho do diabo. Isso é impactante pra todo mundo, principalmente pra quem não é do axé. É importante que isso seja dito, que isso seja falado e que as pessoas busquem outras referências. Acho que esse é um ponto bem importante para mim, vendo desse ângulo, assim, da Ofá. Eu achei isso muito interessante.

“Quanto mais a gente falar sobre culturas que são oprimidas melhor, porque isso vai se disseminar em coisas boas, vai ter reflexos muito importantes”

Paulo Pitta – Se pra Luan essa relação é desde pequeno com axé, lá no centro de umbanda em Coroa, pra mim isso veio um pouco mais tarde. Eu nunca tive essa relação quando pequeno. O primeiro contato com esse tipo de música foi através da Rumpilezzinho, quando eu participei durante dois anos do projeto. Só que aí, quando começou também, veio de forma muito intensa. Começou como música e objeto de estudo, com muito respeito. Só que aí, em 2019 eu me iniciei e hoje eu sou Ogan. Hoje eu tenho, eu vivo o orixá dentro da minha casa, fora dela e, realmente, isso muda muita coisa. Muda muito. Realmente, foi a partir da música. Nunca vou dizer que não foi. No primeiro ijexá já tinha alguma coisa ali que ia me levar, realmente, a hoje ser Ogan de Oxum, em uma casa de Oxum e ser filho de Logunedé. Se a espiritualidade sabe agarrar a gente… entende por onde é que vai arrebatar. Então muda muita coisa, principalmente no quesito de responsabilidade e da forma com que a gente trata a palavra, da forma com a que a gente trata, muda totalmente o olhar. Não que as pessoas que não são iniciadas que tem esse tema, só comumente, como objeto de estudos não possam. É extremamente importante, porque quanto mais a gente falar sobre culturas que são oprimidas é melhor ainda, porque isso vai se disseminar em coisas boas, vai ter reflexos muito importantes. Da minha parte, eu preciso falar que as pessoas que são iniciadas, que tem aquele convívio diário, que prestam culto orixá, elas realmente precisam ter muita responsabilidade e ficar sempre vigiando. É uma coisa que a gente sempre conversa, que a gente tem que estar fazendo isso com o maior nível de respeito que puder. Porque pra hoje eu ter me iniciado, muita gente não pode ter sido iniciada, muita gente passou por muita dificuldade para se iniciar, então, cada ato que a gente pratica é uma resistência da porra. A gente fica muito feliz em poder estar falando no nome de Exu e no nome de vários orixás e fortificando que isso é uma coisa divina e não demoníaca como muitas pessoas acreditam.

el Cabong – Vocês trazem essas referências na música de vocês, mas acho interessante que vocês não usam os elementos mais óbvios quando se traz esses elementos. Não tem, por exemplo, um foco na percussão, que seria o mais comum. Vocês seguem outros caminhos dentro desse universo. Está bem presente nas letras e na musicalidade e aparece de outras formas. É isso mesmo?

Luan Tavares – Sim, com certeza. Acho que, a gente desde o comecinho, até lá na época do EP. Porque o EP, o “Além e mais”, foi meio que um aglomerado das melhores músicas que a gente tinha, das que a gente mais gostava. Mas logo após esse processo, a gente começou a tomar como norte caminhos não convencionais. Até antes da gente compor música pra orixá por esse ou aquele motivo. A gente sempre teve essa preocupação de buscar caminhos inusitados e diferentes do que a gente já escutava. Essa questão de fugir do óbvio, de evitar o óbvio, na verdade fugir nem sempre, mas evitar o óbvio é um norte no nosso processo criativo. Por isso, inclusive, que a gente sempre busca formas diferentes de tocar. Paulo toca sax de uma maneira peculiar, assim, que é dele. Eu toco violão de outra forma também, João tem a viagem dele também na forma de tocar. A gente está sempre em busca de criar mesmo e experimentar caminhos diferentes e inusitados.

el Cabong – No disco tem uma variação, algumas músicas com um formato um pouco mais clássico de canção, outras vão para um lado completamente diferente. Na divulgação, vocês até falam em freejazz, rock progressivo, vocês pegam caminhos bem diversos. É interessante que vocês citam o rock progressivo e vocês nem guitarra usam (risos). Vocês falaram de quatro pilares, mas queria que falassem desses caminhos na sonoridade.

Paulo Pitta – A grande questão desses quatro pilares é a gente de fato escolher o que cada um quer estudar. Realmente esse lance do rock progressivo sem guitarra é maior onda, porque é rock. Quando você fala rock você já lembra logo de guitarra, mas o que a gente foi buscar foi elementos dentro desses pilares. Então, o tamanho das músicas, como você citou, é um elemento que a gente tirou do rock progressivo. A gente ouviu muito Yes e Genesis e várias outras bandas, e as músicas são grandes, são suítes, os timbres de synth também, tem muito a ver com bandas de rock progressivo. A grande questão pra gente foi escolher os elementos. A questão da música de matriz africana está tanto no ritmo, como você falou que realmente não tem instrumento de percussão propriamente dito, além da bateria, mas não poderia deixar de ser músicas rítmicas, porque são. Então, o que um rumpi e um lé fazem em uma dobra de ilu neles, o Luan pode fazer no violão de 7 cordas. A gente tentou fazer esses cruzamentos de como que a gente conduz cada elemento, desses pilares que a gente escolheu, e misturar eles. Por isso que era realmente um experimento e que, até gravar, a gente não tinha noção de como estava.
O freejazz aparece, via improvisação livre, aparece no processo de composição. Teve músicas mesmo, como “Entre a forja e navalha”, que a gente realmente escolheu trabalhar esse material harmônico e melódico, resolveu trabalhar em cima desse ritmo e ficou tentando compor letras que mencionem elementos do orixá Ogum e improvisamos em cima disso. Improvisamos letras, improvisamos melodias e acordes, improvisamos ritmos. A ideia de ver como que a gente misturava tudo aquilo. Então à improvisação bem livre, de forma bem anestesiada, mas com muita força. Veio gerar materiais, sempre com gravadorzinho, e que a gente podia ir montando. Tem músicas que realmente parecem que tem mais de uma música, porque realmente elas foram montadas, elas foram quebra-cabeças que iam aparecendo partes e aí a gente conectou essas partes, por isso o tamanho das músicas também são grandes. A menor música que tem é “Insano Sumo”, de dois minutos e meio, mas que também foi um poema de Luan que eu falei que tinha que entrar porque tinha tudo a ver com o álbum. A gente já tocava ela num outro formato. Esses pilares que compõem esse universo sonoro não é propriamente eles em si, quem vai ouvir, vai precisar fazer um pouco de reflexão pra poder encontrar onde é que está cada coisa. Porque não foi tudo tirado do rock progressivo, se não estaria usando uma guitarra e não um sax. A gente realmente foi escolhendo pontinhos e colocando, pintando esse quadro mesmo, com esses elementos que a gente escolheu né?

“A gente sempre teve essa preocupação de buscar caminhos inusitados e diferentes do que a gente já escutava. Essa questão de evitar o óbvio é um norte no nosso processo criativo”

el Cabong – A faixa “Inaê” talvez seja um exemplo disso tudo, nem parece que ela tem 10 minutos, ela parece uma junção de várias música, tem vários momentos dentro dela.

Luan Tavares – Sim! Eu começaria falando do começo mesmo, que é uma improvisação livre de Paulo e João. Foi bem curioso que a gente fez um take, lá no dia da gravação, que tinha mais ou menos um minuto. Aí, Paulo sugeriu fazer outro mais curto. Ele começou e daqui a pouco a parada deu, mais ou menos, uns dois minutos e meio. A gente parou, ouviu e falou “velho não tem o que tirar, não tem condições de gravar outro, porque é isso”. Acho que a gente foi muito honesto com as escolhas, de entender “porra! Se está bonito vamos deixar”. Vamos deixar que fique registrado esses solos, porque de fato ficou muito bonito, muito bem construída a narrativa que ele fez. Uma parada bem imersiva e a gente tem essa onda mesmo de querer fazer com que as nossas músicas sejam músicas, de certa forma, de contemplação, de um momento que a pessoa pare e escute. Bote ali o seu fone, feche os olhos e escute, se for da sua prática fazer isso, e se sinta tocado pelo que a gente está propondo ali. E que de alguma forma isso construa uma narrativa que vai ali aos poucos estimulando cada coisinha que vem ali no texto. Se você reparar, à medida que a música vai caminhando, a harmonia vai mudando e tal, e isso tudo meio que vai construindo uma paisagem sonora do que está sendo dito na letra, também. Em “Inaê” tem muito dessa coisa da onda, que por vezes ela está muito turbulenta, tá num caminho tortuoso, ali por cima do mar, do mar revolto. Depois vem aquela coisa mais calma, mais branda, mas que, ao mesmo tempo, ainda tem aquela irregularidade das ondas do mar, do balanço. Acho que é por aí mesmo, né? Essa questão de a gente conseguir conceber uma interpretação que seja fluida e que seja fiel tanto ao que está no texto, quanto ao que aquela divindade representa, ela representa o mar. Yemanjá é mãe de nós todos. Ela está ali no mar, tem várias representações dentro do axé e, para além disso tudo, representações simbólicas, também, de como a gente se relaciona com ela e com o mar, por consequência.

el Cabong – Tem uma coisa que eu acho muito curiosa é que o progressivo pra parte minha geração era uma coisa meio indesejada. Vi uma entrevista de Chico Buarque falando isso também, que o progressivo era um mundo distante.  Agora, vejo a geração de vocês se aproximarem bastante do rock progressivo de várias formas. Tem a psicodelia, mas tem outras coisas também. Vários artistas, cada um com sua forma. Queria que vocês falassem um pouco disso. Como é essa sonoridade que, para a minha geração parecia uma coisa velha, parecia uma coisa distante, mas pra vocês é diferente. Como é dialogar com essa música?

Luan Tavares – Poxa! Acho que, até mesmo no EP, a gente já começa a ensaiar alguma coisa do progressivo, porque se você reparar a introdução de “Samba pra cá” é bem grande e a música é curta. Chegou um momento em que começamos a reparar que a gente construía trechos de instrumentais muito grande e que eles não eram arranjos, eles eram parte da composição. Durante esse processo de entender que som a gente fazia, a gente acabou encontrando o rock progressivo como um norte, de dizer “poxa, esse som aqui é o som que eu faço. Não é igual, mas tem muito a ver com o que a gente propõe.” Então a gente meio que abraçou mais como um refúgio também, de entender. Porque muita gente perguntava “pô, e aí, o som de vocês é o que? Quais são as referências? Quais são as influências?”. Acho que foi um encontro massa, quando a gente se viu estudando e entendendo melhor sobre esse universo.

el Cabong – Tem uma coisa que me chamou atenção também é que em alguns momentos do disco ele foge do formato mais tradicional da canção. Tem uma parte que vocês nem cantam, vocês declamam a letra.

Luan Tavares – Isso se deve a proposta que a gente tem que é mais poética. Por vezes tem alguns textos que são melhor entendidos a partir dessa coisa um pouco mais recitada, a exemplo de “Insano Insumo” e até da intervenção poética que eu faço durante “Inaê”. Acho que parte muito da necessidade mesmo, que a gente identifica, até de buscar uma forma diferente, que tem a ver com aquele “quê” de autoria, que eu estava falando anteriormente. Da gente querer buscar caminhos que sejam inusitados e que nem toda música, nem todo texto musical precisa ter uma melodia definida. Eu posso recitar “Inaê” da forma que está no disco lá, mas ao vivo pode me dar uma onda louca e eu recitar de uma forma diferente, também numa outra nota, começar a delinear uma melodia e de repente parar. Acho que isso tudo depende muito do que a gente tem enquanto proposta, do nosso estado de espírito, da onda que bater durante a nossa execução também.

“A gente quer traçar um discurso que deixa uma parada desmistificada do que é a ancestralidade, do que é o Orixá. Que fala sobre a vida humana e que ela é útil a qualquer pessoa, a qualquer tempo, seja agora, daqui a 50 anos, daqui a 100 anos. Seja pra mim, que estou aqui no Brasil, seja pra uma pessoa que está no Tibete, que está, sei lá, em Gana.”

el Cabong – Eu queria que vocês falassem também das letras. Como é que vocês encaixaram as letras? Vocês falaram um pouco desse processo, mas a música era feita e vocês encaixavam a letra? Vocês falaram que em alguns momentos a letra determina um pouco. Queria que vocês falassem um pouco disso e se aprofundassem um pouco mais nas temáticas.

Luan Tavares – A gente é bem metódico pra compor. Claro que existem momentos que alguma ideia vem e a gente vai ali registra e tal, mas a gente não costuma depender muito de inspiração. A gente tem um hábito de sentar “e, aí, vamos compor o que?” Pronto, “qual é a temática?” Tal. A gente senta, vai atrás de tudo o que a gente conseguir encontrar sobre aquele tema e, seja ouvindo alguma referência musical, vendo um documentário, lendo um livro, artigo, o que a gente achar pela frente a gente vai cantando, cantando e sempre tomando nota. Em um dado momento, a gente senta e tenta, meio que, destacar o que é mais importante dentro das nossas leituras, das nossas discussões, dos nossos devaneios. E aí, a gente vai construindo a letra, por vezes em paralelo com a melodia, às vezes já tem alguma harmonia pronta, às vezes não, às vezes a gente parte do zero e vai encontrando ali, montando aquele quebra-cabeça. Peça por peça. E isso dá um norte interessante, porque pelo fato da gente roteirizar o que deve está nessa composição ou às vezes a gente consegue encontrar caminhos bem inusitados e, eu acho que, isso que nos ajuda a sair do senso comum. Porque a gente senta e fala “pô, dessas músicas todas que a gente escutou o que é que tem em comum?” Beleza. “O que é que a gente não encontrou?” Beleza. Vamos falar sobre essa parada que a gente não encontrou e dar alguma ênfase a isso também. E é interessante que durante esse processo a gente teve uma preocupação em falar sobre ancestralidade. Primeiro de uma forma não óbvia e segundo tentando trazer uma perspectiva atemporal dos ensinamentos que estão nos ìtàns, que estão nos cânticos, que estão na forma de dançar, nos estereótipos de cada orixá, que nem sempre são o que dizem. Mas que, por vezes, eles são bem assertivos, e com isso a gente quer traçar, meio que, um discurso que deixa uma parada desmistificada do que é a ancestralidade, do que é o Orixá. Que fala sobre a vida humana e que ela é útil a qualquer pessoa, a qualquer tempo, seja agora, daqui a 50 anos, daqui a 100 anos. Seja pra mim, que estou aqui no Brasil, seja pra uma pessoa que está no Tibete, que está, sei lá, em Gana. É útil pra todo mundo, porque são ensinamentos para a humanidade. Quando a gente lê os ìtàns ele fala ali de problemas que são inerentes ao ser humano, mesmo. A nossa viagem é muito por aí, mesmo, de nortear a ancestralidade através desse viés não óbvio e que deixa essa perspectiva atemporal.

el Cabong – Eu perguntei lá pra trás sobre os diferentes caminhos que a música de vocês apresenta, mas queria saber quais desses caminhos vocês acham que devem se consolidar daqui pra frente. O que é que vocês vislumbram para o futuro, se dá para pensar assim?

Paulo Pitta – Eu não vou mentir que eu saí do estúdio já falando em outro álbum. Até falei “já tenho ideias pra outro, porque agora que a gente já entendeu mais ou menos como é que é gravar isso e aquilo, isso podia ser assim, isso podia ser assado”. Depois que saímos do estúdio, tinha aquela onda do artista de não gostar do que foi que fez e eu falei “pô, velho, nada deu certo. Porra, eu não gostei de nada aqui, não é possível,” mas, como Luan falou, é, realmente, essa questão de ser um pouco metódico nas composições me fez perceber que a gente conseguiu fazer o que estava na  nossa mente. A gente conseguiu amarrar tudo de forma artística e bonita. Tem coisas muito bonitas que me emocionam muito, aquelas coisas que a gente estava pensando. Acho que, para um futuro, pra um vislumbre, eu só espero músicas maiores (risos), desenvolvimento dessa temática com poesias mais intensas, mais firmes e maduras. A gente vai crescendo como cidadão, como pessoa, vai amadurecendo o ser. Acho que, realmente, eu vislumbro isso. Coisas que coloquem a gente em um estado de curiosidade, de que vai ali e use elementos novos, misturados com isso e vamos ver o que vai dar. E tem o lance do progressivo, que puxa muito pra um estudo técnico no instrumento. Historicamente, todos os músicos de rock progressivo são muito bons tecnicamente, não que eu seja muito bom tecnicamente, porque eu, realmente, nem estudo muito. (risos) Mas, como eu falei, é pegar aquilo que a gente acha que vai dar certo e colocar para ver o que é que dar. É difícil imaginar um futuro, ainda mais depois que a gente faz um primeiro álbum desse que a gente nem imaginava que ia fazer esse ano e se não fosse o apoio da Aldir Blanc a gente não conseguiria realizar. Então, foi meio que “ah, tome aí dois meses pra fazer o álbum e faz.”

el Cabong – Mas então você já disse aí que devem ser músicas longas. (Risos)

Paulo Pitta – Eu acho que sim. Pelo que a gente conversa, eu acho que sim. Eu acho que o caminho é aumentar as músicas e não diminuir. (Risos).

Luan Tavares – Eu só completaria a resposta de Paulo dizendo que o “queixão” e a ousadia de sempre ficar buscando caminhos inusitados vai se manter, porque eu acho que isso é um desejo, um norte comum a nós três. Uma característica nossa.

el Cabong –  Eu sei que a gente está num momento que é difícil se falar de show, de apresentação ao vivo e tal, mas, como é que vocês pensam levar esse álbum para o palco? O formato vai ser trio mesmo?

Paulo Pitta – É… o formato é trio mesmo, uma coisa bem batido o martelo que a gente estabeleceu. Esse álbum poderia ter uma orquestra (risos), mas ao vivo ia ser assim trio. Aí você ouve uma coisa no disco e no ao vivo é outra. São duas experiências diferentes. Em casa você bota o seu fone e no show você tem ali o trio. As músicas foram compostas tocando. Muita coisa foi gravada ao vivo, porque a gente estava tocando bem, porque a gente foi criando e tocando, criando e tocando. Então, o que veio de acessório em cima disso foi o synth bass, foram coisas assim, que a gente via que valia a pena investir e a gente colocou. Mas eu acho que o formato é trio, acho que tocar em trio, só nós 3. A gente tem uma relação de amizade também, então, não é uma coisa fria, assim, de profissionalismo, até porque não tinha nem como ser. Essa relação de amizade faz que fortaleça e deixa as coisas mais viscerais, até no palco. (Risos) O primeiro show que a gente fez como trio foi no Mouraria 53, que é um espaço cultural na Rua da Mouraria, em Nazaré, e foi massa demais. Foi muito legal fazer só nós 3 ali, todo mundo apertadinho, um calor da porra e, tocando alto e, delay e reverb, e Isaac doido lá na mesa controlando tudo. Acho que essa energia que tem em todos os trios que a gente admira. Por exemplo, eu cresci ouvindo Paralamas e, para mim, ver Paralamas em trio é uma energia absurda. Quando vem o restante da banda só acrescenta. Então, a gente tem esse vislumbre de fazer um show muito bom só nós 3 e que nós 3 nos bastamos e a gente vai fazer uma parada muito legal tocando e descobrindo os caminhos para se fazer isso. Acho que a grande viagem é essa!

el Cabong – Tenho uma pergunta que foge um pouquinho dessa parte de estética para falar um pouquinho de mercado. Num mercado que é tão difícil, num país que é tão difícil, cada vez tá mais difícil ainda, né? Tem muita dificuldade nesse mercado, no baiano, especificamente. Tem muita gente produzindo e que tem essas dificuldades todas de como a arte é encarada. Eu queria saber como é que vocês encaram esses desafios e como é que vocês se projetam, não mais como som, né, mas como banda, como artista dentro desse mercado?

Paulo Pitta – É isso, eu acho que é um assunto muito importante que é pouco discutido. Eu acho que é muito importante você trazer, porque em Salvador existem pouquíssimas casas de show. Eu acho que existem poucas por vários motivos, por não terem muitos incentivos estaduais e governamentais, enfim. Então isso dificulta muito, porque a maior parte dos artistas ganha dinheiro fazendo show, bandas independentes ganham dinheiro fazendo shows. Sem casas de show fica um bando de bandas independentes pulsando criatividade e produzindo coisas muito legais, doidos pra se apresentar, crescer seus públicos e ouvir das pessoas o que é que acham, e a gente fica sem lugar pra tocar. Então, é difícil ter um mercado. A gente não vai numa concessionária comprar fruta, a gente vai no mercado. Se a gente não tem casa de show, a gente não vai ter show. Isso gera uma problemática muito grande dentro de toda uma cadeia. A gente fica tentando buscar soluções de sair daqui e tentar fazer shows em regiões próximas, tentar fazer uma turnê pelo nordeste, é sempre uma possibilidade; Fazer com que o som chegue em outros estados que tem mais incentivos financeiros e que podem acontecer shows, em que, pelo menos, custeie a passagem da gente pra gente ir em São Paulo, Rio de Janeiro e que faça 1, 2, 3 shows. A gente fica meio refém disso. Porque streaming não dá dinheiro a ninguém, streaming não paga ensaio, só de quem tem muitos plays e quem tem muitos plays não precisa de dinheiro de streaming pra pagar ensaio, pra comprar pão ou pra qualquer outra coisa. (Risos) A gente fica nesse círculo, nessa roda aí, tentando. Muitas pessoas reféns de editais, porque é basicamente o único lugar financeiro que a gente pode realmente produzir algo e ainda tirar uma grana pra a gente. Ninguém vive de luz, a gente precisa de dinheiro pra trabalhar, a gente não está brincando, a gente está trabalhando. Realmente, eu acho que é um círculo complicado e é sempre uma questão muito difícil de dizer “Ah, como é que a gente pensa um mercado?”. Pô, o mercado é complicado de ser pensado, mas eu acho que o caminho que a gente tem tentado seguir é o que todo mundo está tentando, fazer um produto bom e tentar alcançar o máximo de pessoas, tentar alcançar pessoas estratégicas que possam nos convidar pra fazer algo que seja rentável e que a gente apresente o trabalho da gente. Ou seja, coloque a gente pra trabalhar e sejamos remunerados por aquilo que a gente está fazendo.

el Cabong – Eu acho que o trabalho de vocês tem um potencial incrível pra circular, por exemplo, nos festivais. Acho que tem uma coisa que é ruim de dizer, mas que essa realidade não é da Bahia, na verdade. A Bahia nem é o pior dos Estados, nesse sentido, mas eu acho que é isso mesmo, tem que circular, tocar, ir para os festivais, mesmo, como você falou. E vocês tem algumas vantagens, vocês são um trio, que ajuda muito a viajar. Para finalizar queria agradecer a vocês pela entrevista.

Paulo Pitta – Eu também queria agradecer bastante o espaço. Porque eu sempre falo que a gente faz um som que precisava de troca, de feedback, de quem ouve e escreve sobre música. Porque essa troca, esse tipo de pergunta faz com que a gente reflita sobre o que é que a gente fez. São outros ouvidos e outras reflexões que fazem com que a gente deslanche. Garanto que todas essas inquietações que você trouxe, esses feedbacks vão reverberar dentro da nossa equipe, de nós 3 em vários ensaios. Queria finalizar reforçando sobre o quão pra a gente foi importante confiar nos nossos amigos e nas pessoas que já trabalharam com a gente quando a gente não tinha edital, quando a gente não tinha dinheiro pra pagar, justamente. Isso foi uma parada muito legal que eu fiquei muito contente em conseguir colocar os amigos da gente que estavam ali trabalhando, muitas vezes nem ganhando nada, mas acreditaram muito. Minha mensagem final é que acreditem nas pessoas que acreditam em você, porque isso uma hora ou outra vai fazer muita diferença. Foi uma coisa que eu bati muito na tecla dentro desse projeto todo e, realmente, não me decepcionei. Fiquei muito feliz e só fortaleci a amizade. Até quando tem briga, quando tem desentendimentos é porque realmente existe ali uma energia que se voltar a se falar depois é porque tem amizade mesmo, se deixar pra lá é porque nem era pra tá, então é isso aí. (Risos)

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