Discos: Sangria estreia com EP raivoso e certeiro

Formada por veteranos do rock baiano, banda Sangria estreia com Ep raivoso e certeiro.

Raiva, desespero, dor e agonia. Poucas vezes essas sensações conseguem ser transmitidas com fidelidade. Seja no cinema, onde filmes apelam para o lugar-comum, não assustando nem criança e provocando riso, seja na música, com bandas que abusam de clichês e se tornam piada. Tal qual nos melhores filmes de horror e suspense, a banda Sangria, uma das boas revelações do ano em Salvador, cria um universo angustiante, sufocando o ouvinte com uma música pesada e densa e letras pessimistas que falam de um mundo abjeto, desprezível e sem futuro.

Se você está acostumado a ver bandas que usam o lado escuro da alma humana como marketing, assim como em filmes com os Jasons da vida, esqueça. O caso aqui é sério e pega na veia. Possuídos pelo capeta, soltando os demônios em formato de riffs poderosos de guitarra, um cozinha violenta e um vocal que representaria muito bem a sucursal do inferno na Terra, a Sangria faz um som desesperado e não recomendado para quem tem fobias. Pouca gente consegue transmitir angústia, raiva, dor e barulho de forma tão intensa, apocalíptica e detonadora.

Apesar de revelação, a Sangria tem entre seus integrantes alguns nomes importantes do rock alternativo baiano. Os ex-Dinky Dau Bola (guitarra) e Pedro Bó (baixo), o ex-Úteros em Fúria Apú (guitarra) e Mauro (vocal) formam a banda ao lado de um monstro na bateria, Emanuel. Todo o clima barra-pesada criado por eles ganha maior dimensão com o vocal de Mauro, que se entrega às letras e a atmosfera, num vocal esganiçado com sangue, raiva e desespero saindo pela boca.

A banda, formada n final de 2003, marca o retorno de Mauro à frente dos vocais depois de nove anos, desde o fim da Úteros. Além de ser o front-man, ele é também o responsável pelas letras que tratam de um mundo caótico e sem esperança. “Não combina a gente falar de coisas boas. Não dá para viver na Bahia e falar de amor e alegria. Que alegria? Eu não to vendo nada de bom. Não tenho fé na raça humana”, afirma Mauro. As referências não poderiam ser outras, poetas, escritores e gente barra pesada, junkies, gente que não tem fé na vida, Nietzsche, Soudgarden, Alice in Chains e Black Sabbath. Barulho barra pesada de alta qualidade.

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