Discos: Calafrio reforça o rock feirense com ‘Hiato’

O el Cabong segue acompanhando a imensa produção musical da Bahia e dessa vez convidamos Eduardo Lima para falar do Ep ‘Hiato’, da banda feirense Calafrio. 

Por Eduardo Lima*

Tem sido uma tendência atual dos artistas investirem no material audiovisual, o que parece um paradoxo tendo em vista que emissora especializada nesse tipo de conteúdo faliu no Brasil. Fato é, os materiais audiovisuais têm sido essenciais na divulgação das bandas.

Atentos a isso o pessoal da Calafrio, antes mesmo de lançar seu EP Hiato (Maio/2020), soltou no YouTube os clipes de “Primitivos” (Setembro/2019) e “Hiato” (Novembro/2019).

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“Primitivos” é a faixa de abertura do EP lançado recentemente, e seu clipe funciona bem como um lyric video, outra tendência das bandas atuais. É um clipe simples, nitidamente de custo não tão elevado, contudo altamente criativo. Souberam usar bem o fundo branco, com as intervenções que ficam o tempo todo pipocando na tela, desenhos e imagens. A música tem uma pegada indierock, com um riff de guitarra que gruda na mente. Bateu onda.

Ainda chapado com clipe citado acima, passamos para o vídeo de “Hiato”, que intitula o EP lançando em meio a pandemia. A Calafrio demonstra as 1001 possibilidades de uso do fundo branco com esses dois clipes. Enquanto “Primitivos” é mais dinâmico e confuso, “Hiato” vem numa pegada introspectiva, seguindo o ritmo da faixa utilizada para clipe. Os caras demonstraram que, em termos de clipe, ideias criativas são bem mais importantes do que grana.

Além das duas faixas citadas anteriormente, o EP ‘Hiato’ tem mais 04 tracks, sendo que uma dessas 04 é um remix da faixa que nomeia o EP. Todo o disco tem pouco mais de 20 minutos, o que nos tempos atuais, onde tudo é muito dinâmico, é excelente. É um álbum com boas músicas e nada maçante.

As faixas são mais pra trás, não tão distorcidas e focadas numa melancolia feirense, uma das cidades mais loucas desse estado. Cada vez mais afastados da linha noventista / grunge e flertando com o indie rock e alternative rock, faixas como “A mesma canção” retrata bem esse clima.

Rock noventista

Já “Worckaholic” aparece, justamente, para deixar essa marca noventista. Por sinal, a faixa se destaca das demais, sendo a mais empolgante de todo o EP.

Depois da pancada de “Worckaholic”, o baixão chega comendo no centro com “Hipertensa Noite”, contudo dando uma abaixada no fogo aceso pela faixa anterior. Como um fã de música pra bater cabelo, confesso que preferia que todo o disco seguisse na linha de “Worckaholic” e pra cima. Mas, não quiseram assim os Calafrio’s. Pelo menos nos brindaram com esse baixo e uma linha de bateria fudida em “Hipertensa Noite”.

O disco é fechado com um remix de “Hiato”. Um trip hop classudo, que merecia um clipe bem safado e intimista, foi inevitável não ouvir essa música e pensar em um audiovisual de luz baixa, uma pegada bem marota. Achei a versão remixada mais interessante que a original e serviu pra fechar bem esse EP.

Sem sombra de dúvidas materiais bem produzidos como este, demonstram que a produção no interior da Bahia anda de vento em popa, embebecidos de muita criatividade e disposição para tocar o barco.

Ouça ‘Hiato’:

* Eduardo Lima é midialivrista, membro do Coletivo Saco de Vacilo e vocalista da Antiporcos. Escreve na coluna Bolodoido Musical do site Oganpazan.

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