BaianaSystem solta single/clipe antecipando novo disco

Dia 2 de fevereiro é dia de Yemanjá e dia de novidade do BaianaSystem. Em 2021, a banda lança “Reza Forte”, single e videoclipe que antecipa o novo disco, ‘OXEAXEEXU’. Com participação de BNegão, a faixa já era conhecida pelo público que acompanhava os shows do grupo.

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‘Reza Forte’ é a primeira música apresentada do novo disco do grupo, que será apresentado em 3 atos. A faixa integra o primeiro intitulado “Navio Pirata” e que será lançado no próximo dia 12 de fevereiro, sexta-feira de carnaval. A segunda parte, “Recital Instrumental”, chega no dia 5 de março. A última, “América do Sol’, está programa pra 26 de março. A três compreendem ‘OXEAXEEXU’, mais uma parceria da banda com o produtor Daniel Ganjaman, que assinou o ‘Duas Cidades’ (2016), e ‘O Futuro não Demora’ (2019).

Composta por Russo Passapusso, SekoBass e B Negão, ‘Reza Forte’ conta também com a participação de Joander Cruz, no sax soprano; Vinícius Freitas, no sax tenor e sax barítono, e coro de Angela e Tit. O clipe tem direção, roteiro e edição de Belle de Melo, com pesquisa de Russo Passapusso, Cartaxo e Felipe Brito. Filmado em Itaparica, traz diversas referências à história do local e da Bahia, com representações de soldados, capoeiristas, índios Guaranis, caboclos, além de participação do Candomblé Barro Branco.

Leia o texto divulgado pelo BaianaSystem de autoria de Roberto Barrteto:

Até onde a vista alcança

2020. 01 de março. O Navio Pirata navega num mar de gente em uma celebração que tinha um misto de esperança no que poderíamos ser ou acreditar, e ao mesmo tempo uma certa angústia, uma sensação de que as coisas estavam caminhando de maneira perigosa. Dias depois desse emblemático carnaval, tudo parou. E assim continua até os dias de hoje, onde nos aproximamos de mais um carnaval, de mais um ano, e o Navio precisa voltar ao ponto de partida. Uma linha do tempo perpassa pelo pensamento e se transforma num sentimento. Curiosamente uma sensação de atemporalidade, alinhada na atenção necessária do agora, do vibrar, do transformar, do acreditar em outros planos. O mundo é perigoso e precisamos de habilidade para navegar.

2021. 02 de fevereiro, festa das águas, da Rainha do mar. O Navio Pirata reinicia sua rota e lança nesse dia sua primeira mensagem: Reza Forte. Um canto que anuncia a primeira parte dessa travessia dividida em 3 atos. Primeira faixa a sair do novo disco do BaianaSystem, intitulado OXEAXEEXU, a música integra o “Navio Pirata”, primeiro ato que será lançado 12/02, sexta-feira de carnaval. Esse disco é também a terceira parte da parceria com o produtor Daniel Ganjaman, que também assinou o Duas Cidades (2016), e “O Futuro não Demora” (2019).

A reza se tornou um elemento muito presente durante todo o processo de criação e pesquisa do novo trabalho. De formas diferentes, línguas diferentes e nas mais diversas compreensões, o sentimento de recitar, suplicar, de conectar fazia todo sentido. Da África à América Latina, dos povos originários ao sertão com a força de suas rezadeiras, uma sintonia que une a todos pelo poder da palavra e do pensamento. “Fazendo a reza, fazendo a prece, tudo para, tudo chega pro lugar”, traduziu o parceiro de todas as hora BNegão, que em mais uma movimentação mágica conseguiu em meio a toda tempestade subir à bordo do Navio e trazer a força de seu canto, sempre presente na trajetória do BaianaSystem. Uma outra voz também ecoou nessa reza, vinda do outro lado do Atlântico. Joander Cruz sopra ao vento através de seu sax a saudade da Bahia e o lamento pelos tempos sombrios que estamos vivendo.

A “canção da não violência” que abre a música, extraída da Cantata para Alagamar (1979), traz o contexto político e social da disputa de terras no Brasil e a ligação dos movimentos sociais com a igreja e pensamentos filosóficos. A força dessa peça, que já era usada pelo BaianaSystem em shows, é muito emblemática do papel da arte em retratar a realidade e transformá-la, e em sua forma se aproxima muito do contexto popular e mítico da reza.

Reza Forte antecipa o novo disco que se apresenta em 3 atos. Três palavras que se fundem dando um novo sentido e unificando as partes: OXEAXEEXU. O três como numeral e simbolismo, além de representar o sagrado, abre a percepção da realidade como um caminho diferente da dualidade, lados opostos, sim e não, que tem sido a tônica dos últimos tempos. O triângulo, a tríade, o triskel. A Santíssima Trindade, Iuá x Axé x Abá, Shiva, Brahma e Vishnu, o início, meio e fim, animal, vegetal e mineral. Seguimos como desde o início dos tempos tentando entender sobre essa nossa viagem no planeta Terra, e entre guerras visíveis e invisíveis, proteção para cada um de nós, que nesses tempos significa proteção para todos, olhos atentos e abertos para além do alcance. Folha de arruda, pé de coelho e sal grosso.

Luz, câmera,ação

A luz projetada na ideia, na reza, na lente, na tela, na cena, nos personagens, amplia a percepção e aprofunda a experiência audiovisual. O isolamento no qual a humanidade se viu colocada de maneira radical tornou a imagem ainda mais necessária no entendimento da música, seja na criação ou na propagação. A obra como um real processo audiovisual nesse trabalho começou a se concretizar quando os sons que estavam atravessando o Atlântico num diálogo musical, voltaram em forma de imagens e aqui deram vida e possibilitaram dar uma nova dimensão ao que se vinha produzindo. África – Bahia re-conectadas em som e imagem.

E o mergulho mais profundo se deu mais uma vez na Ilha de Itaparica. Como num pulo de dentro da capa do álbum “O Futuro não Demora”, Felipe Brito abre um canal para acessarmos a ancestralidade e tornar Reza Forte algo ainda maior. As filmagens do clipe que aconteceram nesse lugar definidor da história do Brasil, revelaram muito de quem somos, o que podemos realizar e como o respeito e o olhar para os que estão próximos podem nos ajudar nesse momento da história. Numa terra onde os terreiros de Candomblé convivem ao lado dos terreiros de Eguns, onde os Caboclos de Itaparica desfilam nas ruas em 7 de janeiro comemorando a Independência do Brasil, numa representação identitária híbrida que remete a nacionalidade brasileira e a mestiçagem de seu povo, tudo foi conduzido com naturalidade e guiado pelas pessoas da ilha.

O professor e Ogan Osvanil Junior, 6a geração da dinastia do clã Daniel de Paula, do culto dos eguns de herança africana, conduziu a reza ao Terreiro do Barro Branco, na casa Ilê Axé Omin Togun, para surpresa geral uma casa de Yemanjá, que acolheu a todos numa celebração que abriu caminho para adentrar na mata, no local onde o grupo dos Caboclos ensaia e vive na prática, o exercício de juntar arte e cultura em sua essência. Mar, rio, mangue e mata como um organismo único são protegidos no extremo norte por uma fortaleza de pedra e cal, o Forte de São Lourenço, erguido em 1631 e que replica o que aconteceu em toda a costa brasileira num simbólico que perpassa a história de nossa formação como povo.

A sensibilidade para amarrar todo esse processo veio da diretora Belle de Melo, que entre o encantamento de conhecer Itaparica e sua cultura por dentro e a agilidade para conduzir equipe, roteiro e as pessoas da comunidade envolvidas, trouxe a clareza e inspiração necessárias para unir tantos elementos. Elementos que apareciam a cada momento como surpresas mas pareciam magicamente já fazerem parte da história. Como a presença decisiva do ator Fábio Lago, vindo como um feixe de luz diretamente de Ilhéus, sua terra natal, para dar vida a um personagem fundamental e trazer para todos de maneira viva a força do seu ofício, um brilho que se fazia ver mesmo ao sol do meio-dia. Ou do menino Nadinho, que apareceu para todos de maneira tão natural que não se sabe se saiu do mar, do mangue ou da mata, mas trouxe a certeza que a luz estava presente a todo tempo.

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